Dos meus 51 anos, 37 foram vividos nesta Paróquia Sant´Ana, de Laranjeiras do Sul, conduzida pelos Missionários Xaverianos. Muitos já não estão mais entre nós, como Pe Silvano, Pe José Pedro, Pe, Giannino, Pe Aleixo. Outros estão em outros Estados, como o Pe Jorge, Pe Gabriel, outros ainda voltaram à sua pátria de origem como o Pe Mário Tognalli. Todos eles marcaram positivamente minha vida, deixaram seu testemunho. Hoje com a presença dos Padres Domenico, Fabio, Murazzo e Crispin a acolhida, o carinho e o testemunho da família xaveriana continua despertando e tocando corações para a missão.

Com as irmãs xaverianas, que por diversas vezes estiveram conosco nas semanas vocacionais e de animação missionária, rosto feminino do carisma xaveriano dom para a missão, dom para a Igreja, também se percebe a totalidade do SIM de São Guido a Deus.

Na convivência mais próxima a partir de 2010, quando iniciou a experiência de constituir o Laicato Xaveriano Brasil Sul (PR, SP, MG) para partilhar do Carisma dos Missionários Xaverianos e assim ampliar a Família Carismática, cujo legado deixado por São Guido Maria Conforti, que já nos idos de 1800 pensava em enviar leigos para a China junto com os sacerdotes, demorou humanamente para se concretizar, mas nosso tempo não é o mesmo tempo que Deus tem para com a ação do Espírito Santo agir, por isso se considera um Dom para a Congregação e um Dom para a Igreja, desde a Canonização de São Guido Maria Conforti em 23 de novembro de 2011, que também se abra para o laicato.

Hoje, tal qual, uma grande árvore e sob a firme fundação de suas raízes, os leigos estão abrigados no mesmo carisma, com que vivem os sacerdotes, irmãos e as religiosas e no século 21 homens e mulheres que assumem a vocação laical e procuram beber da mesma fonte carismática e com isso mostrar uma parte do Rosto Humano de Deus, na família, no trabalho e nos mais variados campos da sociedade.

A partir de então (2010) a minha vida tomou novo rumo, encheu-se de plenitude e está aos poucos tendo suas perguntas respondidas, anseios que há décadas permeavam minha mente e meu coração. Jamais imaginei que ao responder SIM ao convite do Pe Gabriel, tudo isso aconteceria! Quando penso se poderia viver de outra forma de hoje em diante, a resposta é não, pois nada mais teria sentido.

Externamente nada mudou, continuo no exercício da profissão escolhida professora pedagoga, assumi compromissos pastorais na paróquia e comunidade, como ministra da palavra e eucaristia, catequese (desde 1990), apoio à Pastoral Juvenil, inserção nos conselhos missionários. O que mudou então?

Mudou meu interior, minhas ações na percepção de um Deus que ama a todos indistintamente, ama a todos os povos, em todos os cantos da Terra e tem desejo de ser conhecido e amado, quer ser encontrado e se deixa encontrar, Assim procuro viver no meu dia a dia o carisma xaveriano, procurando, fazer no meu cotidiano e pequeno, o máximo para que com um espírito de fé viva que nos faça ver Deus, buscar Deus, amar a Deus em tudo e em todos  (CT 10).

Ser leiga missionária xaveriana, hoje, é acima de tudo experimentar o amor de Deus que se manifestou desde sempre ...antes que te formasse.. (Jr 1,5) e acolher esse chamado na integralidade do meu ser, da minha vida e também sentir a corresponsabilidade na missão “Só no interior do mistério da Igreja como mistério de comunhão, se revela a ´identidade´ dos fiéis leigos, a sua original dignidade. E só no interior dessa dignidade se podem definir a sua vocação e a sua missão na Igreja e no mundo.” (Christifideles Laici 8).

Os desafios de viver a vocação laical em diferentes espaços (trabalho, família, sociedade,...) é ter a plena consciência que sou imperfeita e que a graça de Deus é que me sustenta. Ser Leiga Missionária Xaveriana é um compromisso de vida assumido de modo livre, espontâneo e fiel.

Posso resumir dizendo que a espiritualidade e carisma xaveriano me impulsionam na vivência cristã de “modo mais radical” com algumas características essenciais:

a) É teocêntrica. Não se trata apenas de uma satisfação subjetiva, nem somente da salvação da minha alma, mas da entrega a Deus, a seu amor na doação aos demais filhos e filhas de Deus, próximos e não tão próximos assim...

b) É cristocêntrica em Cristo, como cabeça, toda a criação está unida ao Pai, pois através Dele recebemos salvação e bênção para todos, sem distinção;

c) É eclesial: a vocação laical não é intimista, reservada, egoísta para ser guardada, deve ser na Igreja – Povo de Deus - lugar no qual o Senhor reúne os que se confiam a Ele na fé, no amor, na missão, na caridade e na esperança para a plenitude da ação de Cristo no mundo

d) É sacramental: nos sacramentos que são maneiras pelas quais o Senhor glorifica o Pai na sua Igreja e conduz os homens à salvação, especialmente na Eucaristia e Confissão.

e ) É pessoal: a vocação laical é escolha que só frutificam na medida em que se doa aos demais para Fazer do Mundo uma só Família no Amor no testemunho dos conselhos evangélicos da castidade, pobreza e obediência;

f) É comunitária. (Por mais que se acentue o aspecto pessoal, a vocação laical nasce, vive e sobrevive somente se estiver ligada profundamente à comunidade cristã que alimenta de modo ativa, efetiva e afetivamente a espiritualidade e por fim

g) É escatológica: a escolha da vocação laical – de modo específico na Espiritualidade Xaveriana - é marcada pela esperança, esta mantém me  em vigilância expectante e nos prepara para a Parusia ou vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos.

Como Leiga Missionária Xaveriana, pude experenciar, viver momentos de vivências missionárias ad gentes na África Ocidental – Guiné Bissau – Quebo – Missão São Paulo VI, mesmo que por breve tempo, pude sentir o profundo amor de Deus pela Humanidade, especialmente por aqueles mais esquecidos pelo egoísmo do Ser Humano. O coração ainda arde e pulsa de anseio por estar entre o povo africano, entre as crianças com sua alegria pueril, com seu sorriso largo e sincero. Entre o povo que acolhe com o olhar a despeito da não compreensão da língua.

Na Amazônia Brasileira, campo de missão dos Missionários Xaverianos, na Diocese de Tabatinga com a Paróquia São Sebastião, em Atalaia do Norte, foi possível sentir o quanto temos a contribuir com tantas necessidades daquelo povo. Quando iremos tomar consciência e abrir nossa mente, portas e janelas,portões e corações e deixar a tranquilidade das nossa realidade cômoda e tão pouco desafiadora e olhar um pouco para acima, pelo menos no mapa e dar de nossa pobreza para missão na Amazônia?

Sinceramente queria ter pelo menos mais três vidas para vivê-las todas na missão ad gentes! Quisera que ao menos em cada paróquia do Paraná uma pessoa, pudesse sentir esse apelo, esse desejo de servir aqueles últimos, onde ninguém mais quer estar.

Não se passa um dia que não pense em tantas necessidades que temos em todos os campos de missão: evangelização, saúde, educação, promoção humana. Me sinto tão pequena, um vermezinho, sem qualquer alcance senão aquele das minhas simples orações!

É a riqueza do Carisma Xaveriano que neste Centenário da Carta Testamento com sua riqueza atemporal, responde às muitas indagações de como viver a vocação laical em tempos de tantos desafios. São Guido Maria Conforti, como Pai e Pastor, deixou suas orientações para seus filhos e filhas, através da Carta Testamento que nos ajuda na fidelidade por ele solicitada, fidelidade esta a ser (re)descoberta a cada dia, a cada escolha que se faz.

Na meditação da Carta Testamento neste ano, o Senhor falou ao meu coração, indagou, questionou e continua exigir uma resposta pronta, generosa e sem titubear, sem olhar para trás, tendo como meta nossa pobre contribuição para a realização da profecia de Cristo ao anelo da formação de uma única família cristã que congregue a humanidade toda... Na convicção de que a vocação à qual fomos chamados não poderia ser maior nem mais nobre, por nos aproximar de Cristo autor e meta de nossa fé... (CT 1)

São Guido também alerta ...No momento do desânimo, recorremos a Deus com oração, renovamos nossos propósitos e redobramos a fidelidade no cumprimento de nossos deveres, lembrando a nossa mente as palavras do Apóstolo, as quais deverão afastar de nós toda a incerteza: “Que cada um permaneça naquela vocação, para a qual foi chamado” (1Cor. VII,20). (CT 3).

Sou feliz e profundamente grata ao Senhor e São Guido Maria Conforti, pelo carisma xaveriano. Que graça poderia pedir como fruto deste Centenário da Carta Testamento? Que não tenhamos jamais medo de testemunhar o carisma xaveriano em nosso dia a dia, que não nos deixemos abater pelas agruras do tempo presente, que confiemos sempre Naquele que tudo pode e do qual provém toda graça e paz, Nosso Senhor Jesus Cristo!

Nossa Senhora Mãe e Rainha de todos os vocacionados, São José, nos ajudem a perseverar sempre na vocação a que fomos chamados (as), leigos (as), sacerdotes, religiosos (as), que sejamos sempre prontos a testemunhar nos conselhos evangélicos da pobreza, castidade e obediência o amor de Cristo. Que jamais escolhamos o caminho mais fácil e as honras do mundo, pois delas advém somente o tempo presente (CT 6).

Santa Terezinha do Menino Jesus, São Francisco Xavier e São Guido Maria Conforti intercedam por nós, filhos (as) seus!

Elizete da Aparecida Toledo - Leiga Missionária Xaveriana

100 anos da Carta Testamento (02.07.2021)