Jesus, na Última Ceia, usou os símbolos tradicionais da ceia judaica, para dar um novo sentido à Páscoa que estava para acontecer.
Jesus transcenderá os símbolos do seu povo que por muitos anos deram significado à sua história. Ele se torna um divisor de águas, de algo novo, grandioso e que ao longo do tempo deve ser aprofundado para descobrir o real significado desse gesto de Jesus, sem estar ancorado no passado, mas vendo a realidade atual.
Os símbolos tradicionais eram: o cordeiro e o pão ázimo (Ex 12). O sacrifício de um cordeiro era o primeiro símbolo pedindo proteção, fertilidade e conservação do rebanho. Quando estavam nas suas terras, o sacrifício se oferecia no templo e o sangue era aspergido no altar. O animal, sem quebrar os ossos, era assado para comer em casa como sinal e vínculo de união.
O pão ázimo era próprio do meio agrário. Era um símbolo de agradecimento pelos frutos da terra que receberam. Além disso, recordava como Deus os alimentou no deserto. O povo guardou uma rica memória dos fatos ocorridos durante sua longa peregrinação, até chegar a uma terra de liberdade.
As duas festas judaicas se celebravam em tempos diferentes e foi mais tarde que foram unificadas. A ceia era em si, a memória daquela grande intervenção de Deus ao tirá-los do Egito (Ex 2, 23-25). O povo viveu sob a exploração do império egípcio por cerca de 430 anos e Deus finalmente interveio na sua libertação.
Jesus toma em conta os mesmos elementos da tradição, mas acrescenta algo novo e profundo a ela. Doravante, não haverá mais o sacrifício de cordeiros, mas Ele mesmo será o Cordeiro imolado, conforme descrito por Isaías (52, 13-53). Ele se converte no novo símbolo onde os seres humanos são reconciliados com Deus em uma aliança eterna. A Última Ceia com seus discípulos, Jesus não a celebra reduzindo-a a uma memória da ceia, observando as rígidas normas judaicas, mas que foi o ponto alto do ministério de Jesus, o símbolo de sua entrega.
A ceia passa a ser: ação de graças, presença, sacrifício, entrega, comunhão, aliança, libertação, perdão, aceitação dos outros como irmãos/as, serviço, festa, unidade, compromisso, alimento que nutre, partilha com... Esta ceia prolonga e culmina o que Jesus e os apóstolos compartilharam nos três anos: comer com publicanos, prostitutas, pecadores e pessoas de má vida era um sinal de reconciliação, serviço, fraternidade, igualdade, abertura filial a Deus.
A Eucaristia não é apenas uma mera cerimônia ritual. Jesus relacionou o sentido do pão e do vinho com o ser mesmo que se doa e se oferece, o que constitui um supremo ato de entrega pelos outros. Ele foi capaz de suportar uma intensa dor em sua mente e corpo para ser credível seu testemunho e sua mensagem de que o amor de Deus exige justiça e verdade.
Na Última Ceia, Jesus vive aquele momento no contexto da oração, antes das refeições, rodeado pelos seus amigos, como uma família, sem ornamentos litúrgicos ou vasos sagrados. A novidade foi seu compromisso com a salvação da humanidade. No amor, Ele se ofereceu e Ele, o sacerdote, foi ao mesmo tempo a vítima. A vítima não está ressentida, nem vai voltar para se vingar de seus verdugos. «A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou» (Jo 20,19) «Se vos baterem, apresenta-lhe também o outro» (Mt 5,39). Jesus rompe a cadeia negativa do ódio e vingança que se transmite constantemente gerando violência e morte.