Às vezes, nós Missionários “profissionais” (!) Nos perguntávamos se com as nossas atividades estávamos realmente “fazendo discípulos” (Mt 28,19), como o Senhor nos ordenou. Anos atrás, na periferia de São Paulo, participamos da Pastoral da Moradia e das lutas populares para que cada família tivesse a oportunidade de ter um pequeno terreno, onde aos poucos construír algo como um lar.
Mas vimos que muitos que deveriam ter sido os líderes do movimento desapareceram assim que obtiveram um benefício para si. Havíamos "feito discípulos"? Não, não naquele momento. Tínhamos acabado de participar de um bom trabalho (assistêncial). Fomos consolados pelo fato de que nosso Senhor também não teve o grande sucesso que esperava des seus, mesmo, apesar de todas as suas boas obras.
Em todos os casos, é sempre bom ter uma meta fundacional que oriente o nosso caminho: “fazer discípulos-missionários” significa tentar envolver-nos todos no espírito da missão, nós e os nossos interlocutores, e não torná-los meros destinatários. Assim descobrimos que a missão se realiza e funciona realmente numa relação fecunda de reciprocidade e diálogo.
Mas, se temos que “fazer e nos tornar discípulos-missionários juntos”, em que consiste exatamente “ser discípulos-missionários”? Se é verdade que não corresponde exclusivamente a uma conversão religiosa, mas antes a uma conversão de vida, em substância, o que Jesus quer de nós?
Falamos implicitamente nas cartas anteriores a estreita ligação que existe entre o mandato missionário do Evangelho de Mateus (Mt 28,16-20) e o Sermão da Montanha (Mt 5-7), que começa com as Bem-aventuranças. De fato, estamos sempre no mesmo monte da Galileia onde o Mestre instruiu os seus discípulos e de onde o Ressuscitado enviará os seus irmãos (Mt 28,16).
Esse programa de seguimento que encontramos em Mt 5-7, torna-se agora o programa da missão e o projeto de um novo céu e uma nova terra.
O discípulo-missionário é antes de tudo aquele que voluntariamente se empobrece para enriquecer os outros (Mt 5, 3), o misericordioso, o honesto, o pacificador, que graças a uma relação de proximidade, ternura e libertação com as vítimas da sociedade, o oprimidos, despossuídos, famintos e sedentos de justiça, farão nascer um novo mundo, uma sociedade mais justa e solidária, sinal admirável do Reino que virá. Inevitavelmente, todos esses "bem-aventurados" serão perseguidos, porque a Boa Nova do Reino é sempre uma má notícia para os ricos e poderosos (Lc 1, 52-53).
A raiva de quem viu perder seus privilégios é desencadeada e, ao mesmo tempo, a perseguição garante que estamos no caminho certo a seguir. Se não fôssemos perseguidos, talvez devêssemos refletir.
Trilhas de trabalho
1. Se listássemos quaisquer tentações na missão, quais seriam?
2. Como vivemos a pobreza evangélica em nosso projeto de vida e missão?
3. Em nossa missão diária, sofremos perseguição? Em que sentido e com quais consequências?
Stefano Raschietti