Covid-19 agride povos indígenas na tríplice fronteira
A emergência de Covid-19 se torna uma verdadeira tragédia não apenas nas grandes cidades, como Manaus e Belém na Amazônia, mas também no coração da floresta. É o caso, por exemplo, da chamada tríplice fronteira de Brasil, Peru e Colômbia, onde o vírus chegou pelo rio ou pelo ar.
O bispo da diocese de Alto Solimões, Dom Adolfo Zon Pereira, xaveriano espanhol, analisa os dados dos sete municípios de sua imensa diocese, tão vasta quanto o norte da Itália, com apenas 220 mil habitantes. De fato, não são os números absolutos que impressionaram (2.304 positivos e 96 óbitos, segundo os dados de 22 de maio), mas a porcentagem de 0,97% da população é positiva (quase o triplo de Itália). Sabendo que há pouca comunicação com muitas aldeias, logo a situação pode ser pior.
Dom Adolfo afirma: “Embora os prefeitos tenham tomado medidas de distanciamento, desde 19 de março, e as fronteiras foram fechadas, mas a pandemia avança. No início, as medidas não eram levadas a sério. Recomendo às pessoas e aos padres, todos os dias, que tomem cuidado e que fiquem em casa, não há outro remédio. Dois padres foram infectados, felizmente passam bem. Mas as mortes aumentam e o município teve que montar um novo cemitério, em uma terra disponibilizada pela nossa diocese”.
A principal preocupação é com os povos indígenas: “A maioria dos contagiados e mortos indígenas por coronavírus estão no nosso território”, cerca de 60% dos 600 infectados e cerca dos 110 falecidos. O grupo étnico mais atingido no território é o povo Tikuna. “O Covid-19 ainda não chegou nos territórios dos povos do Vale do Javari”, continua o bispo. As perspectivas em nível econômico são alarmantes: “Aqui estamos em um lugar distante, há pouca ajuda e viramo-nos, sendo solidários entre nós. Felizmente, depois de um telefonema do núncio, chegou uma quantia disponibilizada pelo papa”.
Apoiar o bispo, na caridade para com a população é responsabilidade da pastoral social diocesana. A missionária marista leiga da Argentina, Verónica Rubí disse: “O isolamento social é necessário, mas está levando à fome as famílias, aqui é praticada a economia de subsistência”. “A fome não espera” é o título da campanha, vinculada à Caritas Brasileira: “Pedimos doações seja em dinheiro, alimentos ou gêneros de primeira necessidade. Encontramos generosidade, além das expectativas, montamos 350 cestas básicas e as distribuímos. Aqui em Tabatinga há grande pobreza, muitas vezes as casas não têm eletricidade e nem gás”.
O contexto, mesmo antes da chegada do Covid-19, não era o mais fácil: “Não há emprego - explica a missionária -, a economia é informal, as conexões com as cidades são difíceis e caras. Geralmente, as fronteiras são praticamente inexistentes; criamos uma rede para sensibilizar sobre o tráfico humano. Além disso, há o comércio ilegal de madeira, animais e drogas”.
Fonte: Caritas italiana