O próximo 24 de março, celebramos mais um aniversário do martírio de são Oscar Romero, pastor, profeta e mártir do nosso tempo, que continua inspirando nossa ação missionária e pastoral dos sem voz.
Oscar Arnulfo Romero y Galdámez nasceu em uma pequena cidade montanhosa, chamada Ciudad Barrios, com uma população de não mais de mil habitantes, na fronteira com Honduras. Pequeno país El Salvador (com 21 mil quilômetros quadrados), o dedinho polegar, como é carinhosamente chamado pela poetisa chilena Gabriela Mistral, porém, durante décadas uma terra de centro América ensanguentada por uma guerra civil endêmica e clandestina que começou na década de 1930.
São Oscar vive no desejo da gratuidade, puro e simples de querer ser um com o seu povo sofredor e, por isso, se empenha constante e incansavelmente no compromisso pastoral para incluir, integrar, suscitar quem tem caído, graças à força extraordinária do anúncio da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, da denúncia franca das injustiças e abusos a que foi submetida a maioria da população camponesa indígena de El Salvador.
Sofrendo junto com seu amado povo, expôs-se cada vez mais às críticas e ao ódio feroz da pequena oligarquia latifundiária de El Salvador: cinquenta e seis famílias, menos de 2% da população em meados dos anos de 1960, de cerca de 4 milhões e duzentos mil habitantes do país. Ele próprio o entendeu e profetizou no seu serviço episcopal, menos de seis meses depois de ser eleito arcebispo da capital, declarando na homilia: “O profeta deve incomodar a sociedade, quando a sociedade não ama a Deus”.
O martírio do Padre Rutílio Grande
Sem dúvida, a vida e o testemunho apostólico de dom Romero, modelo, sacerdote muito fiel à tradição, rigoroso na disciplina eclesiástica, e também desconfiado das conclusões apresentadas pelo Documento Final da Segunda Conferência do Episcopado Latino-americano de Medellín e da “opção preferencial para os pobres”, experimentou um doloroso acontecimento na própria carne, na noite de 12 de março de 1976.
Naquele dia doloroso, o padre jesuíta Rutílio Grande foi assassinado em Aguilares, uma pequena cidade de trinta mil habitantes. Nesta cidade, na sua maioria camponesa, desempenhava o serviço de pároco, vivendo precariamente entre os pobres com outros três irmãos, tornando-se guia e ponto de referência para a comunidade.
Recebendo pessoalmente do presidente da nação a notícia da morte do Pe. Rotílio, dom Romero se dirige ao entardecer à paróquia, onde junto com quinze sacerdotes celebrou a Eucaristia de corpo presente, na presença de centenas de camponeses reunidos em silêncio, para rezar e ao mesmo tempo pedir ajuda e proteção diante da repressão implacável do exército. A resposta de dom Romero a esse silencioso grito de ajuda, naquela noite trágica, torna-se, “a voz dos sem voz”. Dois dias depois do funeral do Pe. Rutílio, em 14 de março, pela primeira vez, em sua homilia, se opôs abertamente aos esquadrões da morte, defendendo o caráter evangélico da atividade pastoral do valioso pároco martirizado.
Portanto, começa a longa noite de tristeza e solidão do arcebispo, que continuará a anunciar as palavras de esperança e perdão, e ao mesmo tempo vibrantes as denúncias e pedidos de justiça para todas as vítimas de cada ato criminoso que, em uma espiral progressiva de violência manchará todo o país com sangue por mais de uma década.
O martírio de dom Oscar Romero
Em 24 de março de 2021, celebramos 41 anos do martírio de São Oscar Romero, assassinado em San Salvador em 24 de março de 1980, na capela do Hospital La Divina Providência. Um pequeno hospital para doentes terminais em que Dom Romero decidiu viver pobre entre os pobres.
Enquanto Romero acabava de terminar sua última homilia, refletindo as leituras, em particular a passagem do Evangelho de João 12,23-26 “Se o grão de trigo que caiu no chão não morre, fica só, mas se morre dará muitos frutos "Com mais uma passagem da Constituição Conciliar sobre a Igreja no mundo moderno, Gaudium et Spes, um assassino desconhecido aparece à porta da capela e tira a vida, disparando uma única bala, direto ao coração. Suas últimas palavras, antes de morrer, são sobre esperança, afirmando: “Esta é a esperança que fortalece aos cristãos”.
Sabemos que todo esforço para melhorar a sociedade injustiça é grande. A esperança evangélica é fundamental na América Latina para todos os discípulos de Jesus Cristo e, claro, para nós, consagrados ad gentes, chamados a testemunhar a misericórdia do Senhor através do anúncio da Boa Nova, num contexto que continua a ser de forte conflitualidade e violência, oriunda de injustiças sociais que continuam a persistir, carregadas nesta hora do flagelo da pandemia Covid 19, agravando a crise socioeconómica existente mais pobre e mais sofrida.
Alessandro Feruglio, sx.
