O Espírito Santo e os Povos Originários
Os dias 21-25 de setembro de 2020, aconteceu via online, o VII Simpósio de Teologia Índia: O Espírito Santo e Povos Originários. Era marcado para acontecer na cidade de Panamá, mas pelos limites impostos pela pandemia que impediu o encontro presencial o encontro foi realizado online.
Esta nova modalidade de encontro fez que os temas tratados não fossem os mesmos do encontro presencial. Porém, possibilitou a ampliação da participação, daí que foram feitos mais convites. No caso, o Cimi (Conselho Missionário Indigenista) abriu a participação para os Regionais; eu participei da parte do Regional Cimi NII.
Cada dia era realizado um encontro de uma hora e meia. A estrutura dos encontros consistia em uma breve oração e apresentação de uma palestra de uma hora, meia hora de perguntas, e uma oração final.
O tema principal foi sobre o Espírito Santo. Este tema estabeleceu uma continuidade dos temas tratados em simpósios anteriores tais como: IV. O sonho de Deus na criação humana e nos cosmos; V. Revelação de Deus e Povos Originários; VI. Trindade, família e Povos originários.
Cada dia teve seu tema próprio: O Espírito Santo na Bíblia; o Espírito Santo no Santos Padres; Teologia do Espírito Santo nos povos mesoamericanos; e um painel sobre a presença do Espírito Santo nos povos Guarani, nos povos originários e a mãe terra, e no povo Arapaso-AM.
Para introduzir os temas Dom Felipe Arizmendi, bispo de San Cristobal de Las Casas (México), lembrou a carta de Benedito XVI em que pede explicitamente prosseguir com o caminho de aprofundamento sobre o tema de Teologia Índia; para o que em 2006 se constituiu uma equipe.
Em lugar de fazer uma síntese de cada tema, parece-me importante compartilhar algumas impressões que me pareceram interessantes e que motivam para continuar na caminhada de aprofundamento sobre o tema da Teologia Índia.
É importante continuar insistindo em que “as sementes do Verbo”, já estavam presentes antes da vinda do cristianismo de ocidente. De algum modo Deus já tinha revelado sua presença na vida e sabedoria dos antigos. Quando chegaram os espanhóis e portugueses Deus já tinha antes chegado neste continente. Na chegada deles, existia um ambiente propício para um diálogo religioso e cultural. Disso dão testemunho os textos antigos do Popol Vuh onde se narra diálogo dos doces sábios indígenas com os novos evangelizadores. A figura mesoamericana de Quetzalcóatl tinha, e ainda tem, muita riqueza nos povos mesoamericanos; a simbólica: flores, canto, caracol, colibri, etc. podem fornecer uma compreensão complementar e uma releitura cultural e contextual da vida Cristo e da Sagrada Escritura; o Espírito Santo oferecia, e oferece, essas condições. O mesmo pode se afirmar dos outros povos originários a partir da sua riqueza cultural.
Por tanto, há ainda uma possibilidade de diálogo, de inovação hermenêutica a partir de parâmetros e das cosmovisões próprias dos povos originários onde se revela a presença de Deus desde tempos muito antigos. Assim como foi possível uma hermenêutica e leitura dos mistérios revelados a partir das culturas, hebraica, grega e latina; também é possível uma nova hermenêutica a partir das categorias próprias das culturas originárias de América. As vias de interpretação serão distintas, porque partem de pontos distintos.
As culturas americanas, mas do que eleger o caminho do logos como aconteceu no mundo ocidental, se enveredam pelo caminho dinâmico da vida e o expressam com a sua própria simbologia. Dessa maneira, fica aberta para cada cultura uma reinterpretação do Deus revelado na Sagrada Escritura a partir do Deus já presente e revelado na história, sabedoria e cultura dos povos locais. Não é um Deus diferente; simplesmente é um novo olhar sobre Deus desde a herança de cada povo. Assim fica possibilitado o enriquecimento e compreensão da pessoa do Pai-Mãe e de Jesus Cristo através do Espírito Santo que ilumina os corações de cada povo e cada pessoa. Os dogmas elaborados a partir da via do logos, podem ser enriquecidos através de novas vias de conhecimento.
Para chegar aos dogmas do credo niceno-constantinopolitano passaram-se quinhentos anos com erros e acertos, com aprofundamento, compreensão e grandes diálogos para conhecer melhor o mistério de Deus e as pessoas da Trindade. Assim também será o caminhar da Teologia Índia em seu diálogo e caminho de aprofundamento; seja ao interno das comunidades, como em diálogo com os irmãos mais velhos de Roma.
Entre muitos desafios foram mencionados: a necessidade aprofundar mais o caminho do conhecimento simbólico dos povos originários: descobrir qual é a estrutura que dá coesão ao mundo simbólico de cada povo; a elaboração de novos conceitos de fé a partir da sabedoria milenar dos povos indígenas.
Pe. Pedro Saul Ruiz Alvarez, s.x. (28 de setembro de 2020)