No domingo 21 de novembro, com a celebração eucarística na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na cidade do México, teve início a tão esperada Assembleia do Povo de Deus, como desejou o papa Francisco. A missa foi presidida pelo presidente do CELAM, Dom Miguel Cabrejos, ofm.
Na segunda-feira, 22, a partir das 08h00, 11h00 hora de Brasília, iniciamos com a oração e inauguração da Assembleia. A grande variedade de pessoas, experiências, estados de vida, idiomas, enriquecem esta grande partilha e escuta do Espírito. A tônica da Assembleia será exatamente ESCUTA E TRANSBORDAMENTO do Espírito Santo, aquele que nos inspira e guia na SAIDA, nos êxodos deste caminho sinodal para avançarmos num novo ardor missionário. Algumas mensagens foram partilhadas: de Dom Miguel Cabrejos, dando-nos a palavra de ordem para a Assembleia. Depois o prefeito da Congregação dos Bispos, Cardeal Marc Oullet, manifestou o sentido desta escuta em sintonia com o Vaticano II. Também foi apresentada a mensagem do Papa para a Assembleia recordando que a ESCUTA E O TRANSBORDAMENTO, é uma convocação para que todo o Povo de Deus caminhe junto, pois, a Assembleia não é, e, nem pode ser, um encontro de uma elite de intelectuais, mas de um Povo que, pelo Batismo, é chamado a ser profeta.
Na sequência, tivemos a conferência proferida pelo padre Fidel Oñoro, cjm, biblista, que iniciou com uma provocação: porque estamos aqui? Na resposta ele contextualizou a Assembleia dentro de um processo de saída, identificando-o com a Cruz redentora e com o olhar de Jesus Cristo. Sem este olhar de Jesus não é possível mudar nossas práticas. A Palavra de Deus não é para ser citada apenas, mas vivida como Revelação.
Para cada dia teremos uma citação Bíblica que orientará toda o dia. Hoje foi “minha mãe e meus irmãos são aqueles que escutam a Palavra de Deus e a colocam em prática” (Lc 8,21).
Em seguida tivemos a orientação para trabalhos de grupos, porém, não foi possível devido a uma falha no sistema. No entanto, na grande sala da Assembleia, fomos convidados a refletir sobre as duas perguntas guias: quais são as dores que trago e quais são as esperanças que me motivam? Os membros da Assembleia tiveram alguns minutos para partilhar. Foi muito bom, porém, deixou a desejar porque o objetivo era o trabalho de grupo para facilitar melhor a partilha e síntese da escuta.
Depois da pausa da tarde retornamos à grande sala da Assembleia para ouvirmos testemunhos de leigos(as), religiosos(as), leigos(as), bispos sobre a preparação que realizaram em vista da Assembleia. Momento bonito de exposição das várias modalidades e iniciativas para envolver o Povo de Deus na escuta e discernimento reais de suas esperanças e angústias e desafios para a Igreja em América Latina e Caribe.
Na pausa para o tema seguinte foram apresentados alguns vídeos dando-nos uma memória da ação evangelizadora na América Latina desde o Concílio Vaticano II até o atual pontificado. Também foi mencionada a REPAM e a estrutura do CELAM que passou por uma reestruturação para melhor servir a ação evangelizadora a partir dos 4 sonhos presentes na Exortação Querida Amazônia.
Na sequência, através das falas do cardeal salesiano Óscar Rodriguez, Ir. Birgit Weilwe, hmm e Maurício Lopez foi apresentado o painel sobre “o caminho da Assembleia Eclesial”. O Cardeal Óscar recordou o caminho sinodal que a Igreja na América Latina e Caribe vem desenvolvendo e convocou a todos e todas a uma participação comprometida, alegre e esperançosa. Mencionou também os números de participantes e a significativa presença dos cristãos leigos(as). Ir. Birgit comentou o sentido da sinodalidade, a participação de mulheres e homens nos processos de decisão e a ministerialidade das mulheres. Mencionou também o clericalismo que cria obstáculos e não favorece um caminho sinodal. O clericalismo, disse a religiosa, está presente também na mentalidade laical e na vida religiosa. Na superação do clericalismo é preciso romper com o abuso de poder, como bem disse Jesus: “entre vocês não deve ser assim”.
Maurício Lopez, por sua vez, fez referência aos diversos rostos que nesse processo foram envolvidos. Destacou a participação comunitária que até aqui foi significativo. 67% dos participantes no processo foram mulheres. Isso é um sinal importante. Algumas constatações que chegaram das escutas: a pandemia que nos fez repensar nossas ações, o silêncio de muitos bispos, a mística do encontro com Jesus e nossa relação com todo o criado, a violência contra as mulheres e a insegurança social, a necessidade de formar lideres capazes de intervir nos processos culturais de forma positiva, o valor dos povos originários e de suas culturas, a pastoral dos afrodescendentes, os migrantes e refugiados, o protagonismo juvenil em vários setores da sociedade e da Igreja. Uma bela e clara síntese.
É preciso, como o cego Bartimeu, disse Maurício, livrar-se da cegueira e gritar mais forte do que as vozes que buscam calar os que estão à margem. A sinodalidade é deixar as seguranças que nos amarram e nos mantém fora do caminho e dar o pulo para o seguimento de Jesus, o encontro com a luz verdadeira. Após as partilhas deu-se por encerrada a sessão. No final do dia foi transmitida a celebração eucarística e a oração do terço.
Podemos dizer que o primeiro dia foi de encontro, escuta e motivação. Estamos começando a fazer o caminho; caminho que se faz caminhando entre erros e acertos.
Pe. João Mendonça, sdb
