Viver o Ano Santo: nas pegadas de São Guido
O Papa Francisco, com um gesto litúrgico, abriu as portas das igrejas de Roma, mas enviou a toda a Igreja uma mensagem ainda mais forte e significativa. Abriu primeiro em Bangui (centro da África).
Logo depois da Basílica de São Pedro, Papa Francisco abriu uma porta santa no abrigo para os pobres: homens e mulheres da rua que se refugiam ao lado da estação ferroviária de Roma.
Caridade universal
São Guido Maria exultaria e repetiria para nós: « Que todas as portas se abram ao perdão e à misericórdia do Senhor, e que todos os caminhos se abram ao arrependimento dos corações. E assim começou o S. Jubileu, o qual, conforme a etimologia, significa júbilo, remissão, liberdade, conceitos que bem expressam a natureza e os efeitos do grande acontecimento.»
O bispo de Parma e fundador dos missionários xaverianos, em sua homilia para a abertura do ano santo de 1925, recomenda a caridade para os pobres em Parma, mas não esquece os pobres do mundo inteiro, em particular os da China onde o povo está morrendo por falta de alimentos: «Já duas colheitas se estragaram por falta de chuvas. A seca persiste há meses e a fome semeia morte, sobretudo entre as crianças.»
Passa depois a se perguntar: o que é o Jubileu?
Jubileu é «um tempo de completo perdão, no qual o Sangue do Cordeiro divino faz ecoar mais alto, em favor dos homens, seu amoroso grito; um tempo em que as fontes da graça fluem com mais abundância, os caminhos do Céu tornam-se mais fáceis, os braços do Pai Celestial estendem-se em direção aos filhos pecadores com maior ternura e, de certo modo, a Justiça Divina se retira para dar espaço à bondade que abençoa e perdoa».
Jubileu é «um tempo abençoado de maneira especial pela divina misericórdia. Um tempo santo, no qual, aplacada por invisíveis oblações, a justiça divina se retira para dar lugar à bondade que abençoa e perdoa».
Jubileu é «um tempo de redenção e de salvação no qual o Senhor vem a nós, não com a espada flamejante do Querubim que expulsou nossos pais do paraíso terrestre, mas com a voz de Pai amoroso que nos chama a dele nos aproximar para sermos readmitidos em sua amizade e para nos fazer usufruir os frutos deliciosos de sua bondade divina. Não é o Anjo que executa sua justiça, mas o próprio Verbo Encarnado que desce até nós, como autor da Nova Aliança, e nos repete as consoladoras palavras: Vinde a mim vós todos que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso».
No ano santo «O Senhor oferece-nos a paz, paz honrosa, nobre e divina, assegura-nos a glória eterna, oferece-nos o perdão, transmite-nos a abundância de suas graças. ».
Ao terminar sua homilia São Guido, o apaixonado pelas missões, o zeloso anunciador de Jesus Cristo, não pode deixar de voltar ao seu sonho: fazer do mundo uma só família.
«Nesta hora conturbada da vida social, nesta hora em que parecem prevalecer o ódio e a corrupção, a Igreja, celebrando o jubileu e reunindo em volta do Papa todo o mundo católico sem distinção de língua, cor, nacionalidade, manifesta sua unidade no vínculo da fé e do amor.
Este povo de Deus se torna sinal e incentivo à fraternidade universal.
Cristo Jesus a proclamou e só com ela é possível a paz no mundo. Os anjos proclamaram a paz ao nascer Jesus, aquela paz que é reconciliação e amizade com Deus, com os irmãos e consigo mesmo. Paz prometida a todo ser humano como antecipação da alegria e paz definitiva no céu.»
Igreja: sacramento de unidade
Ser sinal de fraternidade é a vocação da Igreja: « Uma nova etapa na evangelização de sempre. Um novo compromisso para todos os cristãos de testemunharem, com mais entusiasmo e convicção, a sua fé. A Igreja sentia a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai.»
Entrando mais especificamente no mistério de nosso ano santo: a misericórdia, Conforti nos recordará que a onipotência de Deus brilha com maior esplendor quando manifesta sua misericórdia. «Com a misericórdia Deus revela maior onipotência do que na criação do mundo.» Na bula de proclamação do ano santo Papa Francisco, recordou-nos que: «É próprio de Deus usar misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua onipotência.»
Onipotência misericordiosa
Meditando sobre este mistério, o Fundador das Missionárias de Maria Xaverianas, Pe. Giacomo Spagnolo, chegou a colocar, no carisma e na espiritualidade das irmãs, a consagração à onipotência misericordiosa de Deus. É a experiência de Maria que cantou sua pequenez alcançada pela misericórdia que, onipotente, fez dela grandes coisas.
Rezar na profissão de fé que Deus Pai e todo poderoso significa recordar, «sobretudo, que nosso Deus é um Deus de amor e de consolação, um Deus que nos faz sentir nossa miséria interior, bem como sua misericórdia infinita. Um Deus que se une a nós no fundo de nossa alma, que a enche de humildade, de alegria, de confiança e de amor; que faz esta alma sentir ser ele seu único bem; que todo o descanso está nele e que ela não terá paz e alegria verdadeira senão amando-o» (São Guido Maria).
«Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado» (Papa Francisco).
Pe. Alfiero Ceresoli sx.