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A polarização na sociedade atual: uma abordagem filosófica


“Investigar os opostos” significa, com efeito estabelecer o valor, de verdade ou da falsidade, de duas soluções opostas de uma aporia (Platao, Parmenides). Quando a força unificadora (a capacidade de unificação) desaparece da vida dos homens, e as oposições perdem sua relação viva, tornando-se independentes, então nasce a necessidade da filosofia” (Hegel).

As breves citações nos mostram que o tema do conflito, da conflitualidade é típica das sociedades humanas. Hoje em dia utiliza-se o termo polarização, marcando um traço típico da sociedade atual.

No sec. XVI, quando houve a secularização da política com Hobbes – O Estado é uma criação artificial – para garantir a vida do cidadão, com prejuízo da liberdade individual, inicia o processo que, através de Locke, Montesqieu e Rousseau, levará a criar a democracia moderna.

Infelizmente a democracia hoje está doente. Como apontam Steven Levitsky e Daniel no best-seller: “Como as democracias morrem”, ela requer respeito a regras comuns, reconhecimento da legitimidade dos adversários (ou seja, trata-los como competidores legítimos dentro de uma disputa igualitária), tolerância e dialogo.

O excesso de polarização compromete todos esses quesitos. Com a difusão dos meios virtuais amplia-se o campo da polarização:  das redes sociais à guerras culturais. Com aberrações absurdas: a terra volta a ser plana, remédios que a ciência prescreve para combater o coronavírus são preteridos em favor de remédios (tipo cloroquina) que são sabidamente ineficazes. Galileu, Newton, Pasteur, Kant – que perguntou no ensaio “O que é iluminismo”: a humanidade avança sempre para o melhor? Gozariam sem dúvida desses sabidos-ignorantes que pontificam sobre qualquer assunto, sem a devida preparação cultural (não quero entrar aqui na polemica dentre do próprio ambiente eclesial: acontece a mesma coisa).

Sem dúvida as eleições de 2018 agravaram o cenário político-social, já muito tenso após o “golpe” contra a Presidenta Dilma. L. Boff, num excelente ensaio (cf. Jair Bolsonaro, in: https://pagina.brasil247.com.br/newletter-247-landingpage): aponta para 4 sombras que nunca até o presente foram reconhecidas e integrada:  a sombra do genocídio indígena; D. Joao VI que dizimou os Botucatus; a mais perversa a escravidão; a constituição de um Brasil para poucos.

 1ª. Sombra: segundo Darci Ribeiro haveria uma população de cerca 5-6 milhões de indígenas de centenas de línguas, fato único na história mundial. Eles foram praticamente dizimados. Restaram os 900 mil atuais. Lembremos o massacre de Mem de Sa em 31 de maio de 1580 que liquidou com os Tupiniquim da Capitania de Ilhéus.

2ª sombra: Pior ainda a guerra declarada oficialmente por Dom Joao VI em 13 de 1803 que dizimou os Borucatus no vale do rio Doce, por acharem que eram incivilizados e incatequisáveis. Essa guerra oficial manchará para sempre a memória nacional. O descuido do atual governo face as suas terras invadidas e pelo abandono face à Covid-19 beira a um genocídio passível de ser levado ao Tribunal Internacional Penal por crimes contra a humanidade.

3ª sombra: é nosso passado colonial. Não ocorreu uma descoberta do Brasil, mas uma pura e simples invasão, destruindo o idílio inicial pacifico descrito por Pero Vaz de Caminha. Deu-se um encontro profundamente desigual de civilizações. Logo se iniciou um processo de ocupação e violência em função das riquezas aqui existentes. Todo processo colonial é violento (citar a caso da América espanhola bem descrita no filme: A controvérsia de Valladolid).

4ª sombra, a mais perversa de todas foi da escravidão. O Jornalista e historiador Laurentino Gomes em seus dois volumes: A Escravidão (2019/2020) nos narram o inferno desse processo de inumanidade. O Brasil foi campeão do escravagismo. Só ele importou, a partir de 1538, cerca de 4,9 milhões de africanos que foram escravizados aqui. Essas pessoas eram tratadas como mercadorias, chamadas “peças”. A primeira coisa que o comprador fazia para “traze-las bem domesticadas e disciplinadas” era castiga-las, “haja açoites, haja correntes e grilhões”.

A história da escravidão foi escrita pela mão branca, apresentando-a como branda, quando na verdade foi crudelíssima e vem prolongada até hoje contra a população negra, mulata (54,4% da população) e pobre, como tem mostrado irrefutavelmente Jessé Souza em A Elite do Atraso: da escravidão a Bolsonaro (2020).

A classe dominante, transferindo o ódio ao escravo, se acostumou a humilha-lo, a ofende-lo até perderem o senso de sua dignidade. Esta sombra evocou pessoas sensíveis como o poeta Castro Alves. Ressoam para sempre seus versos em Vozes d’África: “O Deus, onde estas que não respondes? Em que mundo, em que estrela tu te escondes embuçando nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito que embalde, desde então, corre o infinito... Onde estas, Senhor Deus”. Esse grito continua hoje lancinante outrora.

4ª sombra e a constituição do Brasil só para poucos. Raymundo Faoro (Os donos do poder) e o historiador e acadêmico José Honório Rodrigues (Conciliação e reforma no Brasil 1982) nos tem narrado a violência com que o povo foi tratado para estabelecer uma ordem, fruto da conciliação entre as classes opulentas sempre com a exclusão intencional do povo.

Anota L. Boff: “Uma sociedade montada numa bifurcação, sobre uma injustiça social perversa nunca criará uma coesão interna que lhe permita um salto rumo a formas mais civilizadas de convivência” Qual a saída? Papa Francisco na Encíclica Fratelli tutti (Todos irmãos) diante da crise social, econômica, ecológica e da pandemia cita o poeta latino Virgílio: sunt lacrimae rerum et mentem mortalia tangunt – são lagrimas das coisas, as peripécias dos mortais confrangem a alma (Eneida,I 462), aponta caminhos para a superação desse impasse civilizatório.  

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O respeito e a convivência das diferenças: um caminho para a paz social

A justiça social: Opus justitiae pax. Como sonhar a paz social no nosso pais se 8% dos brasileiros possuem 80% das riquezas do continente que é o Brasil? A propriedade privada deve ter uma função social: não pode ser um direito absoluto. Sem partilha dos bens, como podemos superar a polarização entre classes sociais (nesse ponto a Doutrina social da Igreja é muito exigente).

O cuidado com a Mae Terra: a nova perspectiva ecológica une o mundo humano e o mundo da natureza (Cf. A encíclica de Francisco “Laudato si”.

O respeito do outro: “Age de modo a jamais considerar nenhum outro homem, por qualquer razão, seu inimigo. O inimigo é alguém que deve ser aniquilado.

O papel da educação: somente os seus processos transformam in interiore homine. A educação não pode perder a ligação com o seu telos (fim), a formação humana do antropos e contribuir para a emancipação/escolha/responsabilidade das pessoas, como preparar para o exercício da cidadania.

Construir a democracia: interiorizar, nas comunidades e nos sujeitos tal princípio-valor: isto exige treinamento para a convivência democrática (participativa, dialógica, responsável). Tal formação à democracia necessita de um nexo constante e ativo entre educação e política. J. Maritain disse que a democracia, antes de ser um projeto político, é antes de mais nada uma dimensão de interioridade do homem.

Difundir laicidade. Laicidade como espírito de tolerância e como legitimação do pluralismo, por estar naquele mundo plural atual e que será o modelo planetário do futuro. Laicidade que ultrapassa o mundo das separações e que se coloca na fronteira de uma Terra-Pátria, relembrada também por E. Morin, como tarefa agora universal. Uma cultura aberta à compreensão e ao diálogo.

Elaborar compreensão: Aí o diálogo joga um papel fundamental. Um diálogo que não esconde as tensões, mas que se constrói a partir das mesmas, na elaboração permanente de um espaço comum. Tudo isso impõe a prática da intercultura, da formação intercultural.

 Fixar os direitos humanos: como horizonte da conivência planetária e como regra par tal convivência (cf. tese de Habermas). Direitos humanos que emergem como âmbito novo e comum da convivência planetária e que devem ser fixados, interiorizados, difundidos e partilhados (ver CNE/CP: Parecer n. 8/2012 e a Resolução n. 1 de 30 de maio de 2012).

Superar os fundamentalismos: O fenômeno é observado e declinado ao plural, o islâmico, mas também o fundamentalismo evangélico protestante dos EE.UU, o neointegrismo de vários setores da Igreja Católica, a ultra ortodoxia hebraico-sionista etc. Características comuns a toda forma de fundamentalismo são: a convicção de possuir a verdade; o pressuposto que o domínio sobre os outros seja um fato natural; necessidade de um inimigo para combater; a pretensão de ter Deus ao próprio lado na defesa da verdade e na luta contra os outros.

A escola (desde a educação básica) é o lugar, onde é possível realizar concretamente o diálogo intercultural. Vai frontalmente de encontro ao espírito da LBD insistir sobre uma educação monocultural, que tem como escopo o conhecimento e o aprofundamento de uma só cultura ou de uma só religião, num contexto pluralístico, onde convivem culturas e religiões, sem levar em conta a presença do “outro”, do “diferente”. É anti-educativo e antidemocrático impor uma cultura, ou uma religião, sobretudo quando numa classe são presentes alunos de outras culturas e religiões.

A pedagogia intercultural coloca no centro da sua atenção educativa três atitudes fundamentais: a aceitação, a acolhida e a convivência pacífica e democrática. A educação intercultural facilita também o diálogo inter-religioso, desenvolvendo uma atitude positiva com relação a outras pessoas, respeitando o direito de ter ideais diferentes e apreciando a riqueza que a pluralidade das religiões traz para a sociedade.

É um fato historicamente adquirido que a cultura moderna respondeu ao problema da diversidade com o princípio da tolerância, depois das guerras de religião, e afirmou-se sobretudo com Locke e Voltaire no período do iluminismo. Mas hoje em dia parece que este princípio não dá mais conta, pois a diversidade é uma norma do cotidiano. É preciso, portanto, construir uma sociedade fundamentada na cooperação pela convivência de todos. Um termo que expressa muito bem a cultura da solidariedade ativa é a convivência das diferenças.

É preciso passar do espírito da tolerância (grande aquisição cultural, política, ética, religiosa, jurídica) para um espírito de cooperação e convivialidade. Por outro lado, que outra coisa é a educação para paz, o desenvolvimento, a diferença, os direitos humanos, ao cuidado com a natureza, ao diálogo inter-religioso, se não uma grande aposta sobre a possibilidade de mudar a realidade nas suas dimensões locais e planetárias e de construir uma sociedade mais justa, um mundo mais humano e um ambiente natural mais vivível?

Precisamos de um novo humanismo e de uma nova Paidéia. O humanismo da modernidade ocidental é viciado e redutivo. Viciado porque é afirmação do Eu: as necessidades e os direitos dos “outros” são considerados subordinados, quase uma generosa concessão do Eu em relação ao Tu. Redutivo, porque monocultural, eurocêntrico, ocidental , expressão de uma cultura machista, agressiva e pouco respeitosa da natureza.

O novo humanismo deve ser intercultural, heterológico, caracterizado pela coexistência de pontos de vista diferentes, valorização das diferentes identidades culturais, da contribuição da imaginação do "feminino”, princípio da não-violência e da paz, de uma crescente dimensão ecológica.

Um dos autores que melhor abre para o outro é sem dúvida E. Lévinas que nos fala do rosto do outro. Segundo Lévinas a relação com o outro é o ponto de partida para a definição de nós mesmos, fugindo da tentação de englobar e definir o outro no nosso horizonte de significado. Palavras de Lévinas: “A experiência irredutível e última da relação parece-me, de fato, estar noutra parte: não na síntese, mas na frente a frente dos humanos, na sociedade, no seu significado moral...a filosofia prima é uma ética” (Ética e infinito, 69).

O novo humanismo – se pretende ter um caráter planetário – não pode fazer referência, somente às tradições culturais escritas, mas também a memória histórica oral, nos testemunhos vivos dos povos da terra, memória inscrita nos costumes, nos símbolos e mitos.

Ninguém é periferia, - os outros também são centro. É a partir do positivo reconhecimento das diferenças que brota um enriquecimento recíproco e um crescimento comum. Muitos têm medo, no diálogo intercultural, de perder a própria identidade; efetivamente o diálogo intercultural e inter-religioso requer pessoas maduras, capazes de discernimento crítico e responsável.

Conhecer outra religião e outras crenças não é simples. É um diálogo que não faz barulho e se desenvolve no interior da pessoa. É quase uma oração. Neste dialogo com o homem se torna humilde e aceita de ser ensinado por outrem.

Domenico Costella, sx


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