Olhar o interlocutor nos olhos se tornou opcional, e os sentimentos parecem anestesiados, adormecidos, ‘webizados’
Nestes dias, um amigo professor me mandou um e-mail sobre a relação entre ética, smartphones e saúde. Sabemos por experiência que o uso sem limites da tecnologia pode ameaçar o nosso equilíbrio: do ponto de vista social e familiar quando cria isolamento e indiferença; do ponto de vista psicológico quando gera dependência e escravidão da tecnologia; do ponto de vista fisiológico quando prejudica a saúde física.
Alguns estudiosos afirmam que ler, descrever ou enviar permanentemente mensagens pelo smartphone, evidentemente com a cabeça baixa, tenderia a provocar efeitos colaterais e consequências, às vezes sérias, inclusive físicas.
O uso excessivo do Facebook, por exemplo, influencia as energias físicas e pode afetar até o sono. Precisamos, portanto, de ‘bom senso’ no uso da tecnologia, além de princípios e de critérios éticos para refletirmos sobre o sentido e a dignidade da vida. Vejamos alguns exemplos.
“Nossa cabeça pesa, em média, de 4,5 e 5,5 quilos; e, quando conservamos dobrado o pescoço, e assim o mantemos para escrever uma mensagem, a atração gravitacional sobre a cabeça e a tensão sobre o pescoço aumentam até quase 27 quilos de pressão. Esse hábito, quando excessivo, tende a provocar uma perda gradativa da estabilidade da curva espinhal. Assim, o ‘pescoço do SMS” está se tornando um problema de saúde”, escreveu o meu amigo.
As pessoas que, por causa dos smartphones, abaixam demasiadamente a cabeça, como se fossem avestruzes humanos, podem ver os níveis de empatia e de humor despencarem, o estresse aumentar e o narcisismo escapar do controle, com efeitos negativos sobre o próprio desenvolvimento emocional, a saúde e a autoconfiança. E eu nem preciso insistir nas consequências negativas do abuso indiscriminado de smartphones nas mãos infantis ou adolescentes.
Precisamos de princípios e critérios éticos para reaprendermos a humanizar a nossa vida, cuidar da saúde no tocante ao uso da tecnologia; levantar a cabeça, olhar para cima e observar ao redor; acreditar que o tempo vivido no convívio da família e com as pessoas que amamos e que nos amam é muito mais divertido, fascinante e gratificante do que o tempo vivido dentro de um simples smartphone.
Eu gosto de sonhar com um mundo em que aumentem cada vez mais as pessoas que acolham os outros com um sorriso espontâneo, com um aperto de mão sincero, com um abraço fraterno; com mais carinho ao vivo e a cores...
Por Pe. Gabriel Guarnieri, sx