A Carta Testamento é itinerário de santidade para todos
São Guido, é verdade, escreveu tendo em vista os que estavam e no futuro, poderiam estar, na família xaveriana, porém ele fundamenta no batismo a grandeza e a beleza da vida doada a Deus para a “formação de uma única família cristã que congregue a humanidade toda”. Por isso, todo batizado e batizada encontra nesta carta um maravilhoso itinerário de santidade.
Todo cristão, seja ele sacerdote o leigo, religioso ou casado, se quiser de verdade ser discípulo de Jesus Cristo deverá se “habituar a procurar viver a vida de fé, que deve ser a vida do justo em geral e, mais ainda, a do sacerdote e do apóstolo, a qual nos leva a buscar e querer o beneplácito de Deus e não o nosso”. Note bem, “mais ainda” para quem tem vocação sacerdotal, mas caminho de santidade para todos. Conforti continua dando orientações concretas: “E viveremos dessa vida se tomarmos a fé como regra indeclinável de nossa conduta, de maneira a informar nossos pensamentos, nossas intenções, nossos sentimentos, palavras e obras. Viveremos dessa vida se, em todas as contingências, tivermos o Cristo diante dos olhos da nossa mente, ele nos acompanhará por toda parte”.
Continuando a leitura da Carta Testamento encontram-se dicas importantes sobre a relação com o próximo, as devoções indispensáveis à perseverança, até alcançar a “estase”, ou seja, até “ser levados a sair de nós mesmos para reconhecer a beleza escondida em cada ser humano, a sua dignidade, a sua grandeza como imagem de Deus e filho do Pai” (CV 164). “Ver a Deus, procurar a Deus, amar a Deus em tudo acrescentando em nós o desejo de anunciar o Reino de Deus”.
Esta é a vida bonita e feliz do cristão e da cristã: viver sempre em companhia de Jesus Cristo o Filho de Maria. O cristão e a cristã nunca estão sozinhos! Sempre acompanhados, protegidos e abençoados. Presença de Jesus Cristo, presente a Jesus Cristo para tornar qualquer ação reflexo do Deus que é amor. Suas atividades, realizadas no amor e por amor se tornam anúncio, se tornam missão. Papa Francisco não cansa de advertir que missão não é proselitismo. Ao abrir o mês missionário extraordinário (outubro 2019) escreve: “Sabem que a fé não é propaganda nem proselitismo, mas um respeitoso dom de vida. Os cristãos vivem espalhando paz e alegria, amando a todos, incluindo os inimigos, por amor de Jesus. Deste modo nós, que descobrimos ser filhos do Pai Celeste, como podemos ocultar a alegria de ser amados, a certeza de ser sempre preciosos aos olhos de Deus?”
O testemunho, primeira atividade missionária, não dispensa a palavra e a ação. O Papa aos jovens: “O valor do testemunho não significa que se deve manter em silêncio a palavra. Por que é que não havemos de falar de Jesus, contar aos outros que Ele nos dá a força de viver, que é bom conversar com Ele, que nos faz bem meditar as suas palavras? Jovens, não deixeis que o mundo vos arraste para compartilhar apenas as coisas negativas ou superficiais. Sede capazes de ir contracorrente, compartilhar Jesus, comunicar a fé que Ele vos deu. Possais vós sentir no coração o mesmo impulso irresistível que movia São Paulo, fazendo-o exclamar: «Ai de mim, se eu não evangelizar!» (1 Cor 9, 16) (CV, 176).
O autor da carta testamento em todos os momentos de sua vida não deixava passar oportunidade para uma calorosa animação missionária. Por isso fundou junto com Pe. Paulo Manna a União Missionária do Clero, com a finalidade de animar e incentivar os sacerdotes a se comprometer na missão universal. Non cansava de repetir: Todo batizado é naturalmente enviado. Todo discípulo é apóstolo também. Ensinava ao seu povo em Parma: “Nunca esqueçam a profissão de cristãos feita no dia de nosso Batismo, dia em que fomos incorporados a Cristo. Recordemos que Deus quer salvos todos os homens e quer a nossa cooperação a este seu projeto de bondade e de amor”.
Antecipava assim o ditado do Vaticano II, do documento de Aparecida e as exortações de Papa Francesco: “Em virtude do Batismo recebido, cada membro do povo de Deus tornou-se discípulo missionário (cf. Mt 28, 19). Cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas ações. A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados. Esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização, porque, se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe deem muitas lições ou longas instruções” (EG, 120).
Sem longas instruções, mas com a vida orientada pela fé, olhos fixos em Jesus, ser testemunhas do Evangelho, sempre e todos discípulos missionários.
Pe. Alfiero sx.