Experiência Missionária de uma leiga xaveriana em Amazonas
“Todos nós temos um compromisso com as comunidades indígenas”
Quando iniciei a visita na Diocese de Tabatinga, do Estado do Amazonas, de 1 á 9 de agosto, um território que abriga 72 comunidades indígenas, tive a impressão de estar fora do Brasil. Durante o percurso, bate um sentimento contraditório de admiração às belezas naturais dessas cidades, e a falta de cuidado do atual governo com esses povos.
Como o único meio de transporte para chegar a essas comunidades é por barco, tudo é mais difícil: da prestação de serviços de assistência social à saúde. Tudo é mais caro e o acesso a alguns alimentos é para poucos. Para ter acesso a alguns produtos, como combustível, é preciso arriscar a vida. Em Atalaia do Norte, por exemplo, não há postos de venda de combustíveis. A gasolina é armazenada e comercializada em garrafas de plástico de dois litros.
Guiada pelo padre Alberto Penichella, missionário Xaveriano, pude conhecer a realidade de Atalaia do Norte, uma cidade de 30 mil habitantes, onde moram pelos menos 2 mil famílias indígenas. Lá, quando a educação chega para os filhos dos indígenas é de modo precário. O governo não consegue respeitar o direito que esses povos têm da educação em suas próprias comunidades. São os índios que, muitas vezes, precisam se deslocar para a cidade, uma agressão ao seu habitat natural. O jeito de viver da população ribeirinha também chama a atenção de quem chega. As moradias flutuantes são feitas de palafitas.
Conheci mulheres fortes, no cuidado com a casa e a família. Um exemplo é o trio feminino que transforma restos da construção civil em pedriscos que são vendidos, em baldes, para quem vai fazer pequenas construções. O trabalho é árduo. Com a ajuda de uma marreta, elas quebram os blocos de concreto para transformar em pequenas pedras.
Ao conhecer esse território cheio de belezas naturais, porém com grandes desafios, compreendo melhor a importância da Ecologia Integral pregada pelo nosso Papa Francisco e o conceito de casa comum.
O Papa Francisco traz na encíclica Laudato Si (LS) a preocupação com a “Casa Comum”. Indígenas e comunidades tradicionais têm no centro de suas vidas o “território” e “bem viver”. Com similar conotação, descreve a responsabilidade com o planeta e convida para a superação da lógica que se firma na “globalização da indiferença”, intensificada pelo livre mercado e resultante numa “falsa, vaga e ingênua inclusão social”.
Os dias que passei foram pautados pela escuta das pessoas e observação dos seus costumes. Saí de lá com a alma cheia de indignação e o sentimento de que, todos nós, temos um compromisso com as pessoas daquela terra, mesmo à distância. É preciso esperançar com ação, fazendo, cada um a sua parte.
Gratidão a Deus e à Igreja por me permitirem conhecer essa realidade de perto e, a partir dessa experiência, buscar força e coragem para doar amor e tempo à missão que pode ajudar a transformar um pouco dessas vidas.
Por: Iracilda Santos