O tema da vocação é tão amplo que é inesgotável. Podemos dizer que toda vocação é missionária, tendo a missão como denominador comum.
Os antigos autores latinos nunca deixavam de definir bem a compreensão das palavras do título. As duas palavras do título – vocação e missão - fazem parte do vocabulário do povo e não precisam de longas explicações.
Mesmo assim é oportuno detalhar o que elas significam neste nosso escrito.
O termo “vocação”, cuja raiz é “voz”, quer dizer “chamado”. E a ação de chamar é atribuída especialmente a Deus. Ao longo da história do povo escolhido, narrada na Bíblia, encontramos muitos sendo chamados por Deus, ou diretamente, ou por intermédio de alguém delegado dele. Deus chama diretamente Abraão e Moisés. Chama Samuel quando ainda criança, e Jeremias quando jovem... Chama Eliseu por intermédio de Elias... Jesus, Filho de Deus, escolhe e chama doze colaboradores...
Na tradição da Igreja, durante séculos, o termo “vocação” foi praticamente restrito ao chamado das moças para freiras e dos rapazes para padres. Graças a Deus, hoje não existe pastoral vocacional que se limite às duas vocações religiosas e sacerdotais.
Os grupos de “vocacionados” hoje em dia fazem um percurso para descobrir sua vocação, que pode ser para o matrimônio, para o sacerdócio, para a vida consagrada, ou para institutos leigos, ou ainda para os ministérios na comunidade, ou para a catequese, para profissões humanitárias... Também na pregação e nas cele=brações fala-se e reza-se pelas vocações no sentido mais amplo dos cristãos realizarem a missão que Deus sonhou e quis para cada um.
Deus chama não somente indivíduos, mas também grupos de pessoas para um momento novo. Deus chama os cristãos num determinado período da historia e os convida a se unirem em espírito ecumênico para juntos trabalharem em favor da vida na transformação da situação.
O termo “missão” vem do verbo latino “mittere”, e quer dizer “envio”. Para sua compreensão podemos lembrar películas e seriados televisivos que tem a ver com missão e que tem o termo missão até no titulo. É o caso da serie televisiva clássica Missão impossível e dos filmes de James Bond (o Agente 007). O sucesso de tais produções é garantido pelos efeitos muito sofisticados e por cenas ao limite; mas o roteiro dos produtos mencionados é simples e até repetitivo.
A Real Coroa da Inglaterra (ou o Pentágono dos Estados Unidos...) toma conhecimento de um grande perigo numa região ou no mundo inteiro. Com alto sentido de responsabilidade, ela escolhe seu melhor agente e lá o envia, a fim que evite a catástrofe. O enviado sai de seu ambiente e vai na terra estranha envolvendo-se na luta. Parece até sucumbir, mas com muita habilidade e abnegação, acaba derrotando o vilão de turno. O final é sempre positivo: o enviado volta para junto dos seus superiores para dizer: Missão cumprida!
Na verdade, não foi a teologia da missão que copiou o esquema, mas, pelo contrário, as ficções copiaram da teologia. A Bíblia nos diz que Deus Pai criou o mundo como um reino abençoado (ou um jardim) e o confiou aos homens. O projeto era que a humanidade, saída das mãos dele, a Ele voltasse após bela atividade para realçar as maravilhas da criação. Mas os homens tomaram um caminho trágico de perdição e afastamento. Eis que Deus não renuncia ao seu projeto e estuda um plano de salvação. Ele chama seu Filho e confia-lhe a missão de salvar a humanidade e o mundo. O Filho de Deus diz para o Pai: Eis-me aqui, para fazer a tua vontade! (Hb 10,9)
O Filho de Deus aceita de deixar o céu, nasce como homem em Belém, e se prepara para a missão que consiste em restabelecer o Reino, salvando deste modo o mundo. Como missionário Jesus enfrenta não apenas graves perigos, mas a própria morte. Na cruz Ele grita: Tudo está realizado! (Missão Cumprida!). (Jo 19,30)
E Deus Pai, Senhor da vida, o recompensa ressuscitando-o. (Fl 2,6-9) Ele ainda se reservou de confiar a nós a continuidade de sua missão, como veremos.
Pe. Arnaldo De Vidi.