Em Atalaia do Norte, Amazonas, Alto Solimões, divisa com o Peru, 1.200 km a Oeste de Manaus não há grandes novidades. O vírus avança com uma média de cerca de trinta novos casos por dia. A cidade tem 13.000 moradores, os contagiados já são mais de 2.400, cerca de 15% da população.
Os indígenas das aldeias também adoecem com alguns óbitos. A situação é grave e estamos praticamente no lock down decretado pela Prefeitura. O bispo diocesano, dom Adolfo Zon, sx, emitiu um decreto de suspenção de todas as atividades pastorais, sociais e missionárias. Porém, podemos rezar as missas ao domingo, dar subsídios e apoios para as famílias rezarem e dialogarem, distribuir cestas básicas às famílias mais empobrecidas, através da Caritas paroquial.
Quinta-feira dia 25 de fevereiro, após o almoço bateram na porta do meu quarto (a casa fica sempre aberta), era a irmã Joselma com um indígena que falava bastante bem o português pedindo para ir abençoar um parente que estava morrendo. O doente estava em fase terminal, nunca sarou direito de uma mordida de cobra acontecida quarenta anos atrás.
O fato inédito é que o enfermo, José Nascimento da etnia indígena Marúbo era pajé, mas pediu o padre. No passado ele custava não aceitar remédios dos ocidentais por preferir a medicina tradicional natural. O médico não ia lá havia três meses. A aldeia fica a oito km de Atalaia. A estrada, uma BR estreita, reduzida a barro é cheia de profundo buracos e atoleiros.
Eu fui com a minha moto dirigida por um bom motorista jovem. Uma aventura de meia hora. Quando chegamos entramos na maloca, pequena, fechada e bem escura. No pequeno espaço havia treze redes penduradas. Tudo era fiel à cultura Marúbo.
Acho que ninguém falava português, a não ser o que tinha vindo me chamar. Toquei no doente, apesar do perigo do vírus, rezei como eles desconheciam, fiz a leitura de um texto do Evangelho e o comentei, pedindo saúde e levando a esperança da ressurreição. Falava olhando mais para o pajé. O amigo traduzia um pouco. Dei a benção emocionado e me despedi. Infelizmente, dois dias depois o José faleceu. Deus o acolheu na felicidade sem fim.
Alberto Panichella, sx