Meu nome é NDIHOKUBWAYO Elvis, padre missionário xaveriano, natural de Burundi, um país da África. Trabalho há dois anos no Brasil servindo o povo de Deus na Paróquia São João Batista em Nova Laranjeiras, Paraná.
Não é fácil contar a sua própria história vocacional, pois cada vocação é um mistério. Nós consideramos toda vocação como um Dom de Deus. De fato, Deus me criou e me amou bem antes na sua eternidade, e me chamou a essa bonita vocação de partilhar o sacerdócio com seu Filho Jesus Cristo. Na verdade, nunca vi ou ouvi Deus me chamando de viva voz: “Elvis, Elvis...”, mas com certeza eu ouvi Ele, vi Ele, me chamando através da minha família, comunidade crista, amigos, professores, acontecimentos da minha vida...
Nasci numa família católica, constituída por nove filhos. Meus pais sempre foram pessoas da Igreja, especialmente minha mãe - ministra, catequista e cantora na Igreja, e nos incentivava cada vez a participar das missas. Logo depois de receber o sacramento da primeira comunhão, entrei no grupo dos coroinhas. Me encantei tanto ao poder servir nas missas, que, quando os coroinhas agendados para o dia não poderiam ir, eu acordava cedo e ia à missa para substituí-los. Depois entrei no movimento focolari da minha paróquia, o qual moldou também a minha visão de construir fraternidade universal para todos.
Ainda quando estava no ensino fundamental, entrei no Grupo Vocacional, onde tratamos assuntos sobre as diferentes vocações na Igreja. Uma das pessoas que me inspiraram na minha caminhada vocacional foi o nosso pároco, o falecido Padre Barindogo. Ele era amigo da minha família e, às vezes, nos visitava. Mas, sobretudo, o que me inspirou na vida dele foi a sua simplicidade e proximidade com o povo de Deus. Naquela época, havia apenas um carro no município inteiro: o carro do padre. Quando alguém ia até ele pedindo socorro, um doente, uma mãe prestes a dar luz, a qualquer hora, fosse dia ou noite, ele estava sempre disposto a ajudar. Essa proximidade e serviço ao próximo me tocou bastante.
Continuei meus estudos e sempre com o sonho de um dia entrar no seminário. Tentei a primeira vez, porém não deu certo, pois não tinha nota suficiente, mas não desanimei. No ensino médio, consegui entrar no seminário menor diocesano. Quando aproximou a hora de entrar na faculdade, fiquei pensando qual seria a minha escolha. Graças a Deus achei um livro que tinha o título “Quem Enviarei”, onde se encontra todas as congregações trabalhando no Burundi e seus endereços. Fiquei tocado pelos xaverianos, especialmente pelas palavras do fundador São Guido Maria Conforti: “Fazer do mundo uma só família”. Logo depois, mandei uma carta ao padre animador das vocações, que veio nos visitar no seminário. Ele me acompanhou por dois anos e, quando terminei o Ensino Médio, não hesitei em escrever a carta de pedido para entrar no Seminário Xaveriano. De repente, recebi uma bolsa de estudo para outro pais. A escolha ficou mais complicada, mas fiquei firme na minha primeira escolha. Entrei no seminário xaveriano, fiz o primeiro ano de propedêutico, depois filosofia e então fui admitido ao Noviciado no Congo. Foi a primeira vez que saí do meu país.
A experiência do noviciado foi muito bonita. Aprendi bastante sobre a vida do fundador e a história da nossa família xaveriana. Foi um momento de também aprofundar o sentido da vida religiosa e da missão através dos votos religiosos. Depois de um ano fui destinado para as Filipinas, onde fiz meus estudos de teologia por seis anos. Lá, encontrei o falecido padre Everaldo dos Santos. Sua pessoa impactou a minha vocação e aprendi muito com ele. Hoje, por providência de Deus - porque nada é coincidência, tudo é providência, estou trabalhando na sua paróquia de origem, aqui no Brasil.
Após a minha ordenação, fui destinado a vir para o Brasil. Depois de três meses de aprendizagem da língua portuguesa, a direção regional me destinou à Nova Laranjeiras, onde trabalho atualmente.
Como falei no início, toda vocação vem de Deus, e esta se confirma e se vive com e dentro da comunidade cristã. O fato de a minha paróquia ter sido criada pelos missionários estrangeiros da Espanha me deixava com um sentimento de “dívida” a outros povos. Dizia a mim mesmo várias vezes que, se esses missionários não tivessem deixado pai, mãe, sua pátria, coisas materias, não teria conhecido Jesus.
Com a situação da guerra civil no meu país e diante do sofrimento de meu povo, sempre me fazia uma pergunta: como posso ajudar o meu povo? Percebi que não tinha dinheiro para ajudar eles a sair da miséria e sofrimento, porém tinha algo a oferecer, algo espiritual, como um guia espiritual. Também a bondade e a providência divina que prestigiei depois da morte de meu pai através da ajuda de alguns de seus amigos do passado, me deixaram com a mesma pergunta do salmista “Como posso retribuir ao Senhor toda a sua bondade para comigo?” (Salmo 116: 12). Dessa pergunta persistente, nasceu também a vontade de responder ao amor e misericórdia indizível de Deus na minha vida.
A cada dia fico admirado e agradecido a Deus que me chamou a essa vocação sacerdotal, religiosa e missionária - não porque eu a merecia, mas por seu infinito amor comigo e o seu povo ao qual ele me enviou para servir. Agradeço também a família xaveriana que me acolheu, todos os meus confrades xaverianos, o povo de Deus aqui em Nova Laranjeiras por sua hospitalidade e amizade, minha família de sangue que sempre me apoiou. Enfim, todos aqueles que de uma forma ou outra, me ajudaram a ser quem sou hoje.
“A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de Vida eterna”. (Jo. 6,68). A Ele a Glória, agora e para sempre. Amen.
Pe. Evis NDIHOKUBWAYO