A indecisão vocacional é um momento importante que acompanha o processo de discernimento vocacional de um jovem que se sente chamado à vida religiosa ou ao sacerdócio.
Em um determinado momento da caminhada vocacional o jovem se questiona: abraçar o sacramento do matrimônio ou assumir o carisma de uma congregação religiosa? Segundo o papa João Paulo II, “uma decisão ideal seria aquela sustentada por diversas motivações”.
Quando falamos de indecisão vocacional devemos olhá-la a partir de duas dimensões, uma dimensão ativa e outra passiva. De um lado a indecisão ativa tem a capacidade de romper com os comportamentos condicionados exigindo respostas conscientes e responsáveis. De outra lado, ela pode representar uma atitude de passividade onde a pessoa nunca chega a uma conclusão. Ela nunca responde e continua sonhando sem se confrontar com a realidade.
Infelizmente, algumas ideologias da cultura contemporânea como o individualismo, consumismo, hedonismo e a prevalência do ter em relação ao ser dificultam ou impedem o jovem de ter uma clareza sobre a vocação e todo processo que a caracteriza. Como consequência, muitos jovens entram na vida religiosa fazendo caminhos paralelos. De um lado o jovem se engaja no processo de formação e de outro lado ele continua criando possibilidades futuras caso o processo de formação seja interrompido. Essa instabilidade impede o jovem de viver o processo de formação de maneira integral e como um tempo de graça.
Nesse sentido, o processo de acompanhamento vocacional e de discernimento é fundamental. É durante esse tempo que o animador vocacional deve criar espaços de diálogo para favorecer um acompanhamento integral, um acompanhamento que leve em consideração a história pessoal de vida do jovem vocacionado, suas motivações vocacionais, sua experiência de fé, além de dar respostas concretas às dúvidas, medos e questionamentos que acompanham a descoberta vocacional.
Para superar a indecisão passiva, o animador vocacional deve ajudar os jovens a formularem um projeto de vida animado pelo espírito de Jesus e aberto a acolher sempre a vontade de Deus.
O animador vocacional deve clarificar e reforçar as motivações vocacionais ajudando os jovens no processo de decisão. Nesse processo, o jovem vocacionado deve se tornar autônomo e capaz de elaborar decisões responsáveis e maduras.
Podemos concluir que o jovem descobre sua vocação em um contexto fortemente condicionado pela cultura contemporânea.
Às vezes ele sente medo do desconhecido, medo do engajamento que a vida religiosa exige, medo das possíveis frustrações, fracassos etc. Para vencer todos esses medos, a experiência pascal dos primeiros discípulos pode se tornar um paradigma para superar as indecisões em vista de respostas conscientes e bem discernidas.
A experiência pascal dos primeiros discípulos é marcada pela travessia do medo para a confiança. Essa travessia modificou completamente a vida dos primeiros discípulos e o discernimento vocacional deve seguir essa mesma dinâmica, pois o Espírito que animava as primeiras comunidades cristãs é o mesmo Espírito que continua nos animando e suscitando no coração da juventude a beleza e a sacralidade da vocação.
A descoberta da vocação até a sua resposta definitiva exige uma caminhada de fé autêntica para possibilitar a passagem do medo para a confiança, em outras palavras, o discernimento vocacional exige uma experiência pascal profunda pois discernir o chamado de Deus em meio a tantas outras vozes exige confiança, coragem e disponibilidade.
A vida e a história nos ensinam que, para o ser-humano, não é fácil reconhecer a forma concreta à qual Deus nos chama e qual é o nosso desejo, por isso a tradição da Igreja nos oferece o discernimento como uma proposta de luz face às indecisões que surgem em nosso caminho.
O número 51 da Encíclica “A alegria do Evangelho” do papa Francisco nos apresenta três verbos que podem nos ajudar a definir um itinerário de discernimento vocacional: reconhecer, interpretar e escolher. Reconhecer a ação de Deus na vida concreta, interpretar o chamado de Deus através da escuta da Palavra de Deus e escolher ou responder através de um ato livre, consciente e responsável.
Enfim, não existe vocação que não seja orientada a uma missão acolhida com indecisões ou certezas. O importante é não cruzar os braços diante dos medos e das dificuldades, mas de preferência confiar e arriscar avançando sempre para águas mais profundas pois o Cristo ressuscitado caminha conosco nesta bela e formidável aventura.
“O discernimento torna-se indispensável quando se trata da busca da própria vocação.
Pois esta, na maioria das vezes, não aparece logo clara ou completamente evidente, mas vai-se identificando pouco a pouco. O discernimento, que se deve fazer neste caso, não há de ser entendido como um esforço individual de introspecção, cujo objetivo seria conhecer melhor os nossos mecanismos interiores para nos fortalecermos e alcançarmos certo equilíbrio. A vocação é um chamado do Alto e, neste caso, o discernimento consiste, sobretudo em abrir-se ao Outro que chama.
Portanto, é necessário o silêncio da oração para escutar a voz de Deus que ressoa na consciência”.
(Papa Francisco)