Vocação: a beleza do chamado e os desafios do discernimento
O discernimento vocacional será um dos temas de discussão do Sínodo dos Bispos que acontecerá em Roma no mês de outubro. A pertinência do tema “os jovens, a fé e o discernimento vocacional” nos coloca diante da evidência de uma crise que vem atingindo as vocações religiosas e sacerdotais.
A evidência desta crise nos questiona fortemente, sobretudo com relação às metodologias que utilizamos no processo de discernimento vocacional dos jovens que acompanhamos.
É importante lembrar que toda vocação reflete uma beleza sagrada que emana de Deus. A vocação é antes de tudo um chamado de Deus e, se falamos em crise de vocações, devemos situá-la em relação à mudança de época que caracteriza nossa sociedade e à credibilidade da mensagem que estamos veiculando entre os jovens que acompanhamos.
Deus continua suscitando no coração da juventude a beleza do chamado a uma vocação específica.
Nós, enquanto animadores vocacionais, devemos nos questionar sobre como estamos propondo aos jovens a beleza da vocação e do encontro com o Cristo que é o fundamento de toda vocação.
Sem dúvida, as grandes transformações no âmbito da ciência, das novas tecnologias e as rápidas mudanças que alteraram o cenário social onde construímos nossas relações modificaram consideravelmente a identidade do jovem pós-moderno. De um lado nós temos uma geração jovem que é vítima do discurso atraente de um mundo irreal e virtual, e de outro lado nós temos uma geração que reconhece a importância de discernir os sinais dos tempos a partir da relação entre fé e vida concreta.
Porém, as duas gerações se encontram na mesma encruzilhada. Elas partilham os mesmos dramas e esperanças, fracassos e vitórias, sonhos e projetos futuros. Em um mundo que se transforma rapidamente, os jovens são chamados a cruzarem as fronteiras da indiferença e da alienação para se tornarem protagonistas de um novo caminho que deve ser construído com muita lucidez, coragem, esperança e acima de tudo com muita fé.
Nesse sentido, o Papa Francisco propõe um acompanhamento dos jovens a partir da fé, da escuta da Tradição da Igreja tendo como objetivo um acompanhamento integral que ajude os jovens a assumirem as escolhas fundamentais da vida sempre com audácia e coragem.
A experiência de fé constitui o elemento fundador de toda experiência cristã e o parâmetro para todo acompanhamento vocacional.
Podemos concluir que os desafios que acompanham o processo de discernimento vocacional é um reflexo das experiências ou o resultado de um mundo em constante transformação. Por isso, antes mesmo de começar um acompanhamento, o animador vocacional deve ser capaz de compreender o mundo e suas rápidas mudanças para poder discernir entre os sinais dos tempos que interferem fortemente no processo de construção da identidade dos jovens.
O animador vocacional deve se confrontar com todas essas mudanças e, se for preciso, mudar de direção buscando novos espaços de acompanhamento para favorecer o diálogo e a partilha. O animador vocacional deve ser criativo e caminhar contra a corrente das ideologias vazias que ameaçam o engajamento do jovens diante do chamado de Deus. Ele deve compreender que o discernimento vocacional é tempo de ser fermento na massa, tempo de paciência, de esperança e de muita oração.
Um verdadeiro acompanhamento vocacional deve permitir aos jovens a descoberta do projeto de Deus em suas vidas e como acolher esse projeto com liberdade e responsabilidade.
Discernimento não significa conhecer o futuro para querer antecipá-lo, mas possibilitar uma experiência de formação que passe primeiro pelo encontro com o Cristo e em seguida pelo discernimento dos caminhos que ele nos chama através de uma vocação específica.
Enfim, o discernimento vocacional exige paixão! Ele se encontra em um momento de reelaboração. Talvez podemos falar de um novo paradigma para o acompanhamento e discernimento dos jovens, não necessariamente propor a criação de um novo modelo, mas de preferência voltar às raízes e ao essencial para responder os anseios e questionamentos de uma juventude que tem muito a oferecer à Igreja e à sociedade.